11.11.07

AI QUE VONTADE DE VOLTAR!

Essa semana, para minha surpresa, recebi um email com um comentário sobre um post de 2005 do meu blog. Aliás, o comentário só poderia ser sobre um post antigo pois há muito nada é escrito aqui.
A partir desse comentário fiz um tour no meu próprio blog, relendo aquilo que havia escrito já faz tanto tempo. A sensação foi de um misto de saudade, alívio e surpresa.
Saudade da época em que escrevia e tinha tempo para ler mais. Quando digo ler, quero dizer a leitura que alimenta a alma, a poesia, a literatura. Continuo lendo muito todos os dias. Hoje, por exemplo, tenho 33 trabalhos e uma monografia de 130 páginas para ler. Mas me entristece esse caráter apenas objetivo e instrumental assumido pela leitura em minha vida atualmente. Mas, em breve, isso vai mudar! (Espero!!!).
Alívio por não viver mais aquele tipo de desconforto que me fazia falar tanto de relacionamentos mal sucedidos e dos conflitos entre homem e mulher. A vida mudou muito nesse tempo em que fiquei sem escrever. Minha postura diante dos relacionamento mudou. Acabou a época do Sex and the City! Mas não deixo de ser fã ca Carrie.
E surpresa por perceber que, mesmo movida por aquele desconforto, minha fala tinha alguma coerência e meus textos até que não eram maus. Modéstia à parte.
Espero poder retomar esse blog em breve.
É isso aí, está me dando uma vontade de voltar....

16.12.05

NÃO É FÁCIL

É impossível esquecer...

É impossível esquecer
aqueles que nos tem respeito
nos acariciam com jeito
e na hora de deitar
nos oferecem o peito
pra que melhor possamos respirar.

Ah! não há como negar!
Um ser terno
passa a ser eterno!


(Malluh Praxedes. No verão desta primavera.1984)

18.11.05

FESTA DOS MIL TAMBORES

Para aqueles que ainda não sabem, há alguns meses venho me aventurando pela música. Estou aprendendo a tocar percussão, fazendo parte do Grupo Cultural Arautos do Gueto. Obviamente sou somente uma bem intencionada com sede de aprender, mas confesso que poucas coisas têm me dado tanto prazer nos últimos tempos quanto o convívio com o Grupo. Enfim, essa extensa introdução, vinda de mim não poderia ser diferente, é para informar que nesse domingo, dia 20 de novembro, das 16 às 20 horas, acontecerá na Serraria Souza Pinto a FESTA DOS MIL TAMBORES. São mil tambores que irão se reunir no Dia da Consciência Negra para uma festa maravilhosa na companhia de meu ídolo máximo - Milton Nascimento - e convidados.
É imperdível!
Para mais informações, clique aqui.

DEVIA SER PROIBIDO

devia ser proibido
uma saudade tão má
de uma pessoa tão boa
falar, gritar, reclamar
se a nossa voz não ecoa
dizer não vou mais voltar
sumir pelo mundo afora
alguém com tudo pra dar
tirar o seu corpo fora
devia ser proibido estar
do lado de cá
enquanto a lembrança voa
reviver, ter que lembrar
e calar por mais que doa
chorar, não mais respirar (ar)
dizer adeus, ir embora
você partir e ficar
pra outra vida, outra hora
devia ser proibido...
(Itamar Assumpção e Alice Ruiz)
Poesia pra tocar no rádio
Alice Ruiz1999
Editora BlocosRio de Janeiro - RJ

14.11.05

Fala! Estou pronta pra te ouvir então

Chama !

E se o mundo permitir a gente ama

Ta ardendo essa paixão por dentro grita

(...)

Se eu soubesse que o amor te envaidece

Não teria dado a chance que eu te dei

Esse medo isso é comum a gente esquece

Mas não tenha tanto orgulho assim

Você pode ser melhor pra mim eu sei

Quero ver seu lado mais adulto

Fala! Estou pronta pra te ouvir...

Composição: (jeff Garcia/ Guilherme Bicalho) - Nila Branco - Parte II

22.10.05

QUEM É VIVO...

Partindo do pressuposto de que "quem é vivo sempre aparece", esta pode ser encarada como uma modesta tentativa de ressuscitar esse blog. Não há muito o que explicar, vida assoberbada de trabalho, permeada por algumas viagens (com fim profissional, não se empolguem!). Para ser franca, nem mesmo estou certa de que esse blog ainda tenha leitores, diante de uma ausência tão prolongada. Medeiros, você está aí???????
Pois bem, li esse poema do Ronald Claver na vitrine do Centro de Artesanato Mineiro (aquele do lado direito da entrada do Palácio das Artes). Era uma noite quente, estava a caminho do Parque Municipal.
Muitos devem se lembrar do Ronald Claver dos tempos de escola. Seus livros eram bibliografia quase obrigatória: Ana e Pedro, A Última Sessão de Cinema, e tantos outros.
Como não ter curiosidade pela obra de alguém que se diz "perdido em Belo Horizonte" desde que recebeu "o mundo de presente"?
Tenho esperança
que a primaverá que há em ti
primaverá em mim
Ronald Claver

24.9.05

FELICIDADE CLANDESTINA

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
Clarice Lispector. In: "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998

20.9.05

SURDEZ????

minha voz
não chega aos teus ouvidos

meu silêncio
não toca teus sentidos

sinto muito
mas isso é tudo que sinto

Pelos Pêlos - Alice Ruiz - 1984 - Editora Brasiliense - Série Cantadas Literárias - São Paulo - SP

Tua mão

no meu seio
sim não
 
não sim

não é assim

que se mede

um coração

Alice Ruiz