26.6.05

PODE ACREDITAR...

O álbum Cosmotron do Skank sempre me traz boas surpresas. Na última sexta-feira prestei atenção na letra de Um Segundo. Tive vontade de enviar a vários amigos. Para evitar a profusão de emails similares optei por publicá-la aqui, certa de sua utilidade.

Um Segundo - (Samuel Rosa - Chico Amaral)

Não pense mais
Que você não é capaz
De cruzar estas esquinas

O mundo oscila
Realmente, eu sei
Na beirada dos teus olhos

Pode acreditar
Diabo é quando não há mais poesia
O chão não está mais fixo do que seu olhar
Hoje pra ninguém

Mas veja só
Não torne este peso maior
Sem razão
Você tem todo tempo
E mais um segundo pra se convencer

Você, rapaz
Na verdade é um a mais
Percorrendo o mesmo círculo

O mundo oscila
Realmente, eu sei
Feito fogo nos teus olhos

Pode acreditar
Diabo é quando a lágrima não cai
O chão não está mais fixo em nenhum lugar
Hoje pra ninguém

21.6.05

EFÊMERA

"És precária e veloz, felicidade.
Custas a vir, e, quando vens, não te demoras.
Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, e, para te medir, se inventaram as horas."
Cecília Meireles

20.6.05

DOMINGO NA PRAÇA

Telefone tocando...
- Pronto!
- Ei! Livre! Cadê você?
- O quê? Não ouvi!
- Já tô livre, cadê você?
- Ah, aqui te esperando!
- Podemos encontrar em frente ao prédio verde?
- Verde?
- É, o da esquina.
- Ah tá.
- Beijo.
- Beijo.
Tempo para caminhar entre a multidão...
- Oi!
- Oi!
...

Não aconteceu, mas assim eu havia imaginado.

14.6.05

DAS VÁRIAS COISAS

COISAS QUE SÃO DISTANTES, AINDA QUE PRÓXIMAS:
Namorados que não dizem nada sobre a aparência das namoradas
Relações entre irmãos que não se amam
O intervalo entre o último dia do ano e o primeiro dia do ano seguinte
Filhos a quem os pais negaram o seu amor

COISAS QUE SÃO PRÓXIMAS, AINDA QUE DISTANTES:
O paraíso
A rota de um barco
A amiga que vive em Paris
Os olhares trocados entre um homem e uma mulher


COISAS DIFÍCEIS DE DIZER:
Que não queremos mais comer
Que o amor acabou
“Por favor, não me abandone”
Adeus

Fulgor: "qualquer luminosidade intensa e ger. rápida; clarão". As situações acima são assim, um clarão intenso, mas representativo. O nome da obra do qual os trechos foram tirados é Cenas Fulgor, de Lúcia Castello Branco, que conheci por meio do Sarau Virtual do qual participo. Tendo, assim como muitos, passado por essas situações, achei que valia o registro.

10.6.05

MEUS AMIGOS MERECEM FERNANDO PESSOA

É preciso encarar as amizades de maneira mais amena. A maturidade chega também nessa esfera. Descobrir que nem sempre vamos querer estar com todos os amigos ao mesmo tempo, que não precisamos ser um bando. Isso não nos torna menos amigos. Existem momentos que só queremos compartilhar com uma determinada pessoa, porque ela vai compreendê-lo mais do que ninguém, e isso é cumplicidade.
Amizade e respeito andam juntas e são inseparáveis. Assim, passei, cada vez mais, a respeitar os momentos dos meus amigos, pois aprendi a respeitar os meus momentos. Aprendi que podemos fazer novos amigos sem desfazer dos antigos, e que não existe o conceito de "melhor amigo", pois é dificil hierarquizar o sentimento. Há, talvez, o "amigo mais próximo", e esse muda com as circunstâncias da vida.
Próximos ou distantes, meus amigos sempre me serão caros. A eles e aos que vão chegar, as palavras de Fernando Pessoa:

"Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.
Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem brilho questionador e tonalidade inquietante.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero a resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Louco que senta e espera a chegada da lua cheia.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. (...)
(...) Meus amigos são todos assim:metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Pena, não tenho nem de mim mesmo, e risada, só ofereço ao acaso.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte deaprendizagem, mas lutam para que a fantasia não deasapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, evelhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril".
Fernando Pessoa

6.6.05

LEMINSKI

Ouvi sobre esse poema no aniversário do Gui, na sexta-feira. Adorei!

Bem no Fundo

"No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora e outros pequenos probleminhas."

COISAS DE CLARICE

Estive conversando com um amigo sobre Clarice Lispector. Ele diz acreditar que sua dificuldade para compreender o que ela escreve vem do fato de ser homem. Penso que não, porque, mesmo sendo mulher, gostando muito de ler e admirando a força e a passionalidade da Clarice, tenho muita dificuldade para ler suas obras. Exceto os contos. A própria Clarice diz : "suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, deentrar em contato... Ou toca, ou não toca". Talvez ainda não tenha conseguido sentir o suficiente...
Coincidentemente, recebi de minha amiga Lu um email que era quase uma overdose da escritora. Alguns trechos eu conhecia, outros não. Resolvi reproduzir algumas passagens que considerei mais interessantes. Percebo que Clarice é mas fácil de ser entendida assim, fora do contexto, em passagens esparsas. Sei que essa declaração pode parecer uma heresia para muitos. De qualquer forma, não vou desistir...

"A vida é um soco no estômago"
(A Hora da Estrela)

"E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta. Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo."
(Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres)

"Tenho lido pouco e mal como quase sempre, com a diferença dos totalmente ignorantes, que eu sei o que estou perdendo".
"Eu, alquimista de mim mesmo. Sou um homem que se devora? Nao, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos meus modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.Vivo em escuridão da alma, e o coração pulsando, sôfrego pelas futuras batidas que não podem parar".
"Chico, além de você ser altamente gostável, você tem a coisa mais importante que existe: candura...e eu, apesar de não parecer, tenho candura dentro de mim. Escondo-a por que ela foi ferida. Peço a Deus que a sua nunca seja ferida e que se mantenha sempre."
(Para Chico Buarque)
"...descobri que eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente”.

1.6.05

POEMINHA PRUMA ÉPOCA DE EXTREMA EXARCEBAÇÃO SEXUAL

Em tempos de limites tênues e grande experimentação, achei interessante o poema do Millôr:

"Eu também gosto
De permissividade
Garotada
Mas, aqui entre nós,
E na alminha,
Não vai nada?"