6.6.05

COISAS DE CLARICE

Estive conversando com um amigo sobre Clarice Lispector. Ele diz acreditar que sua dificuldade para compreender o que ela escreve vem do fato de ser homem. Penso que não, porque, mesmo sendo mulher, gostando muito de ler e admirando a força e a passionalidade da Clarice, tenho muita dificuldade para ler suas obras. Exceto os contos. A própria Clarice diz : "suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, deentrar em contato... Ou toca, ou não toca". Talvez ainda não tenha conseguido sentir o suficiente...
Coincidentemente, recebi de minha amiga Lu um email que era quase uma overdose da escritora. Alguns trechos eu conhecia, outros não. Resolvi reproduzir algumas passagens que considerei mais interessantes. Percebo que Clarice é mas fácil de ser entendida assim, fora do contexto, em passagens esparsas. Sei que essa declaração pode parecer uma heresia para muitos. De qualquer forma, não vou desistir...

"A vida é um soco no estômago"
(A Hora da Estrela)

"E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta. Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo."
(Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres)

"Tenho lido pouco e mal como quase sempre, com a diferença dos totalmente ignorantes, que eu sei o que estou perdendo".
"Eu, alquimista de mim mesmo. Sou um homem que se devora? Nao, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos meus modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.Vivo em escuridão da alma, e o coração pulsando, sôfrego pelas futuras batidas que não podem parar".
"Chico, além de você ser altamente gostável, você tem a coisa mais importante que existe: candura...e eu, apesar de não parecer, tenho candura dentro de mim. Escondo-a por que ela foi ferida. Peço a Deus que a sua nunca seja ferida e que se mantenha sempre."
(Para Chico Buarque)
"...descobri que eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente”.

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