19.5.05

DAS DEFINIÇÕES

"O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse:
Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem".
O Livro das Ignorãnças
Manoel de Barros

Lembrei desse trecho de Manoel de Barros hoje enquanto pensava no efeito das definições e explicações. Existem coisas na vida que não devem "ser sabidas", informações que existem para ser guardadas. Às vezes nossa verdade é tão verdade que a verdade real, a verdade verdadeira, quase se torna mentira.
Lembro que quando minha mãe me contou que papai noel não existe, eu já desconfiava, mas, definitivamente, não queria saber! Minha única reação, entre as lágrimas, foi perguntar a ela por que havia me contado aquilo. Eu não queria saber.
Não quero saber das má índole dos meus ídolos, quero acreditar que cantam como anjos, atuam como se estivessem tomados por entidades ou escrevem por dom divino. Não quero ler um estudo de obra que explique exatamente como interpretar esse ou aquele poema. Quero sentir, quero fazer minhas próprias analogias, quero criar minhas imagens, quero afinar meu olhar.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Será que o homem só é capaz de ser sublime ou atingir em algum grau a "elevação" quando tomado por alguma entidade ou tocado por Deus ?
Parece-me injusto tirar do homem essa capacidade.Mesmo com seus defeitos ou eventuais índoles ruins prefiro aceitar meus ídolos como são ou parecem ser.

11:02 AM  
Anonymous Anonymous said...

Definitivamente não, meu caro anônimo. Acredito que o homem é sublime até em seu cotidiano. A idéia não era tirar dele essa capacidade, mas dizer que, nesse caso específico, a relação com o concreto, saber sobre esse ou aquele comportamento humano, é desnecessário para a compreensão.

1:01 PM  

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